Jorge Jesús: “Reinier é talentoso”

Futebol

Jorge Jesús (Amadora, Portugal, 1954) senta-se com o MARCA para analisar um 2019 em que conquistou o Campeonato Brasileiro e a Libertadores e em que chegou à final do Mundial de Clubes. E além disso, poliu Reinier Jesús, que se tornará jogador do Real Madrid nas próximas semanas. O treinador do Flamengo não duvida: “Ele vai triunfar em Madrid”.

Pergunta. Começa um 2020 que, suponho, vai querer pelo menos ser como 2019. Campeão do Brasil, da Libertadores, finalista da Copa do Mundo de Clubes…

Resposta. Sim, quase não ganhamos a Copa do Mundo. Tudo foi perfeito e a cereja no topo do bolo foi a Copa do Mundo. Saímos do Brasil com a certeza de que poderíamos vencer, mas também sabíamos que era difícil. Não esperávamos, sim, toda a repercussão internacional que tivemos.Assim como não imaginava que os portugueses vivessem as vitórias do Flamengo como próprias. O abraço que recebi do meu país é algo que vai me deixar marcada para a vida toda.

P. Agora ele tem o mais difícil, que é continuar todo esse trabalho e continuar com essa projeção internacional que o Flamengo tem.

R. O Flamengo ainda pode crescer mais e vamos trabalhar para que ele tenha essa dimensão global e seja reconhecido e respeitado em todo o mundo. Isso acontece ao adquirir o hábito de vencer e estar sempre nas finais e conquistando títulos.

Há um ano assumimos uma equipa sem credibilidade e sem confiança, mas com os jogos a equipa foi crescendo e crescendo até ao nível dos melhores.O principal rival deste ano será o próprio Flamengo, pois temos que bater mais recordes do que batemos na temporada passada e isso exige um esforço muito grande, ter que estar melhor a cada partida e saber que nunca temos que baixar os braços. / p>

P. A final da Libertadores, com uma reviravolta nos últimos minutos que lembrou a final da Champions League, em Camp Nou, entre Manchester United e Bayern, que lembrança isso te deixa? Foi a terceira final do River, uma equipe de grande qualidade e experiência. Fazer o que fizemos foi tremendo, especialmente porque havia um oponente muito carismático na frente. A reta final do jogo foi emocionante, a melhor que se pode ver no mundo.Com o tempo você percebe que tem que ser muito forte para ganhar uma final como essa, mas esse Flamengo pode crescer ainda mais e este ano queremos fazer melhor.

P. Foi a vitória mais importante de toda a sua carreira?

R. Claramente. Foi muito bom vencer assim e sentir a alegria da torcida em campo. E depois a festa no Rio de Janeiro, que nos deixou de cabelos em pé. Foi muito importante para nós saber que você tem 40 milhões de fãs para apoiá-lo. O Flamengo é um dos clubes do mundo que mais torcem no seu país. Existem grandes clubes na Espanha, Inglaterra e Itália com grandes hobbies, mas muitos são estrangeiros e estão em outro país.No Flamengo é diferente, somos 40 milhões no próprio país.

Também posso dizer que esse grupo de jogadores foi o melhor e o mais forte com quem trabalhei até hoje.

P. Como você vivenciou a final com o Liverpool?

R. Foi um momento único na minha carreira. É verdade que não ganhamos a final, mas jogamos contra o melhor time que existe hoje. Na minha opinião, o melhor agora é o Liverpool. E o Flamengo pode se orgulhar de jogar frente a frente com um ótimo comportamento coletivo na Europa. A diferença entre as duas equipes não foi vista. Hoje o Flamengo é um time com marca na Europa, com boa estrutura e grandes jogadores.

P. Você pode imaginar no final do ano que vem, de novo? Você gostaria?

R. O Flamengo ainda não fez proposta para continuar, tenho contrato até maio…As seleções brasileiras têm uma oportunidade única nesta temporada, pois a final da Libertadores deste ano é disputada no Maracanã. E o objetivo neste momento para o Flamengo é, depois de conquistar tudo, bater os próprios recordes. E o que precisamos alcançar? Ser campeão mundial de clubes deve ser o gol número um do Flamengo nesta temporada.

P. Você acha que seu nome estará entre os melhores do mundo na premiação da FIFA?

R. Acho que sim. Quando você ganha títulos, alguns dos melhores do mundo, acho que também tem que valorizar o treinador.Eu treino um time que venceu a Liga Brasileira, a Libertadores e jogou na final da Copa do Mundo.

Quem decide e qualifica a qualidade dos treinadores tem que olhar para o que cada uma de suas equipes consegue esportivamente e O Flamengo tem que estar em um plano superior, como o Liverpool estará. Seus treinadores e jogadores devem ser reconhecidos pela FIFA. Para mim, Jurgen Kloop tem que ser premiado como o melhor do Mundial da temporada, não tenho dúvidas. A FIFA tem que olhar a Libertadores da mesma forma que olha a Liga dos Campeões, não pode separar o que uma competição representa do outro. A Libertadores é uma grande competição, disputada com paixão, com grandes times, muita luta e ótimos jogos.

P. Mas você espera estar entre os três primeiros?

R.Acho que tenho que estar perto do Kloop, porque ganhamos o Campeonato Brasileiro, a Libertadores e conseguimos estar na final do Mundial de Clubes. Uma nova temporada está começando no Brasil agora e quero tentar fazer o mesmo roteiro de 2019 para que possamos aumentar a qualidade do nosso trabalho no Brasil. Tenho a sensação de que vamos estar no Mundial de Clubes novamente porque vamos ganhar a Libertadores e estaremos na final novamente.

P. Na final do Mundial, como foi o encontro com Kloop?

R. Dei para ele uma camisa do Flamengo com o nome dele e aí pensei em dar uma garrafa de vinho português, mas não preparei antes e no Catar já era impossível. Ele era um cavalheiro e eu queria agradecê-lo de uma maneira gentil por como ele se comportou bem comigo.Entre treinadores não pode ser de outra forma, somos rivais, mas fora de campo tem que haver muito respeito.

P. Vamos falar sobre a Espanha. O início de sua carreira foi influenciado pelo Barça de Cruyff. Ele sempre olhou para a Liga com muito carinho.

R. É um campeonato que gosto muito. Todo fim de semana assisto aos jogos da Espanha e isso te influencia. E você gosta de futebol, os torcedores da Espanha, de qualquer clube de onde você pertença, eles são muito apaixonados e transmitem essa paixão aos seus times. É verdade que no início da minha carreira bebi muito do Cruyff, sempre tive uma paixão pelas seleções espanholas, mas quem faz a diferença para mim é o Barcelona. Sempre foi um clube que me cativou.

P. Você gostaria de treinar um time espanhol um dia?

R.Atualmente estou em uma das melhores equipes do mundo. Não penso em outro time. Eu não sei amanhã. Mas você está sempre esperando uma oferta.

Q. Se você tivesse que escolher entre Inglaterra, Espanha ou Itália, para onde você iria?

R. Obviamente, Espanha ou Itália, sem dúvida. Principalmente na Espanha. Mas no futebol você não pode escolher, eles escolhem você. Estamos sempre esperando que um clube ligue para você. No momento estou pensando apenas no Flamengo, nem quero pensar em outra solução.

P. Renier vai para o Real Madrid e você foi o último treinador do jogador. O que você pode nos contar sobre essa jovem estrela do Brasil?

R. É um jovem muito talentoso, mas não olhe para ele como olharam para o João Félix, com toda a pressão que tinha.Acredito muito no Reinier, conversei várias vezes com ele e conversamos muito do ponto de vista de como poderia ser reavaliado, como poderia ser melhor, seus defeitos, o que precisava ser corrigido. Conversamos muito, mostrei a ele vários exemplos de jogadores do Reinier para que ele tivesse uma referência.

O Reinier é um menino muito inteligente, gosta de aprender e posso dizer que é um menino dotado. Fisicamente ele é um talentoso para a posição de segundo avançado, mas não invente, não o coloque nas asas porque vão estrangulá-lo. O sistema é essencial para você executar. Por exemplo, você tem dificuldade para jogar 4-3-3.

Q. Você acha que Reinier terá sucesso na Espanha?

R. Acho que sim. Ele tem apenas 17 anos, mas fisicamente possui características incomuns.Tecnicamente ele é muito forte e em campo está 5 anos à frente, joga como se fosse um jogador de 22 anos em termos emocionais e de inteligência. Agora ele tem que crescer, ele não é o João Félix, são diferentes. O português tem características mais de goleador, enquanto Reinier tem uma técnica individual muito forte e não gosta de jogar como atacante, gosta de ter outro jogador ao seu lado e no meio-campo é muito forte.

P. Você falou com ele sobre Madrid?

R. Não tive tempo, mas garanto que está maduro para isso. Chegará a Madrid seguro e tranquilo para fazer o seu trabalho.Mas é preciso dar-lhe um tempo para que possa crescer como jogador e isso é muito importante para que um dia tenha sucesso no Real Madrid.

Há mais jogadores no Flamengo que conseguem chegar aos melhores clubes da Europa?

R. O Reinier é claramente um produto da formação do Flamengo, temos uma equipe juvenil muito forte. Foi campeão do Brasil, Sub-20, Sub-17, Sub-15…Ou seja, o Flamengo terá um lote de gerações e no futuro sairão muitos mais Renières. Temos um trabalho de muito boa qualidade, aos miúdos não falta nada num país que é sem dúvida onde há mais talento, onde se fabricam jogadores todos os dias. Conhecendo as escolas portuguesas, que são muito boas, posso dizer que a formação do Flamengo não fica atrás.

P.Este ano você trabalhou com um jogador espanhol, Pablo Mari, o que você pode nos contar sobre ele?

R. Ele era um estranho, estava perdido na segunda liga, e sempre gostei de suas características e acreditamos no seu potencial para nos ajudar em todas as competições. Isso nos ajudou muito.

P. Você consegue alcançar o time espanhol?

R. Vai ser difícil, mas você tem todas as condições para o conseguir. Ele tem 25 anos e pra mim tem tudo para ser chamado. Essa é minha opinião.